Dona Leonice Furlan, 59 anos, é dona de casa e vive em Vilhena há quatro anos. Ela e o marido, Raimundo Ramos, aposentado de 69 anos, dividem a casa em que moram, em um terreno medindo 27×12,5m no Bairro Moisés de Freitas, com 76 gatos e 6 cachorros, todos animais abandonados e resgatados das ruas do município.
Antes de vir para Vilhena, Leonice morava em Cuiabá, no Mato Grosso, lá ela já possuía 19 gatos, também resgatados das ruas. Por recomendação médica ela e o marido tiveram que se mudar para Vilhena, onde o clima é mais fresco que na capital mato-grossense. Uma veterinária da cidade se propôs a ficar com os animais e Leonice veio para Rondônia trazendo apenas dois gatos, um deles Pretinha que está com o casal há 16 anos.
Mesmo sem condições financeiras, dependendo de doações e ajuda para comprar rações e medicamentos, Leonice não se recusa a recolher os animais, que muitas vezes são deixados em frente ao seu portão ou levados até ela pela população e por profissionais veterinários. De acordo com Leonice, até Bombeiros do município que não oferece Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) já foram entregar gatos resgatados para ela.
Indagada pelo motivo que a faz dedicar todos os seus dias ao cuidados desses animais ela responde: “O amor né, toda vida eu cuidei. Eu tenho amor mesmo, sou apaixonada!”.
Há 44 anos juntos, Raimundo apoia a ação da esposa “se eu não apoiar eu apanho”, ele brinca, porém sente dificuldade em ajudá-la a cuidar dos bichos. “Eu até aprovo, mas fico triste por não ter recursos para ajudar. Se tivéssemos mais condições enchíamos aqui de animais, de 70 ia pra 200”, explicou.
Ao contrário do esposo, nenhum dos 6 filhos do casal apoia a ação da mãe. Segundo Leonice, o único filho que mora na cidade não a visita por conta dos animais, nem nos feriados de Natal e Ano Novo.
O sonho de Leonice é um dia criar um Organização Não-Governamental (ONG) para ajudar mais animais. “Eu já estou mexendo para criar a minha ONG, entrei com um advogado e vou tentar, porque a prefeitura nunca me ajudou em nada, nunca se preocupou. Por eu estar tirando os animais da rua, que estão sendo judiados, maltratados levando pedrada, paulada, nunca me ajudou”, relatou.
Denúncia
Os animais recolhidos acabam trazendo transtornos aos vizinhos de Leonice, que reclamam do mal cheiro e dos barulhos durante a noite. “Eu tenho que deixar os cachorros presos porque eles acabam machucando os gatos. De noite eu coloco eles dentro da casinha e eles começam a uivar, eu não tenho o que fazer”, conta dona Leonice.
No intuito de conseguir um terreno maior para acomodar os animais recolhidos da cidade sem incomodar ninguém, Leonice procurou a Prefeitura de Vilhena na primeira semana de fevereiro e relatou o que estava acontecendo.
O caso foi encaminhado para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e a médica veterinária responsável, Fabiane Tietz, realizou uma fiscalização na casa de Leonice, onde foi constatado que há boas intenções, porém o lugar é impróprio para manter todos os animais. “Se houvesse um Centro de Zoonose, o correto era recolher esses animais e coloca-los lá. Mas nós realmente não temos o que fazer”, relatou a veterinária.
“Eu só quero um pedaço de terra para tirar meus animais de lá. Eu não quero jogar eles na rua. Eu não quero dar fim nos animais”, clamou dona Leonice.
Leonice foi recomendada então a não recolher mais nenhum animal, porém ela relatou à reportagem do VILHENA NOTÍCIAS que dois dias após a fiscalização, cinco filhotes de gatos foram deixados na chuva em frente sua casa.
“Esses cinco gatinhos foram jogados dentro da enxurrada em frente da minha casa. Aí a veterinária fala que não é pra eu pegar. Como é que eu não vou pegar se jogaram dentro da enxurrada? Os coitadinhos morrendo, pedindo ajuda, eu ia deixar morrer em frente à minha casa? Quem tem amor não faz isso”, disse.
Segundo o secretário da Semma, Jorge Rabello, o relatório de fiscalização feito pela veterinária foi protocolado na Polícia Ambiental e encaminhado para o gabinete.
Solução
Como o município de Vilhena não possuí um Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), e até pouco mais de um mês atrás, durante a antiga gestão, não possuía nem um profissional médico veterinário, ainda não há uma solução certa para o caso de Leonice. A mais viável e de curto prazo seria o encaminhamento desses animais para outro município que ofereça a estrutura de CCZ.
Segundo Jorge Rabello, existe a possibilidade desses animais serem mandados para Ji-Paraná, onde há um CCZ. “O Sargento Trindade da Polícia Ambiental já se disponibilizou em levar os animais se acaso conseguirmos entrar com um acordo entre os municípios, e se existir espaço para eles lá” explicou o secretário.
Jorge disse que mesmo a Semma não sendo a responsável pela criação de um CCZ, algumas providência já estão sendo tomadas para que em um futuro próximo ele possa se tornar uma realidade em Vilhena. Parcerias com algumas faculdades no município estão sendo estudadas.
Ajuda
Para Leonice, a ajuda das pessoas é muito importante. De acordo com ela, existem dois parceiros que nunca deixaram de lhe ajudar, a ex-vereadora Maria José, que segunda ela, sempre lhe ajudou com pacotes de ração, e o Dr. Luiz da Agrivet que lhe concede descontos especiais na castração dos animais. Ela também recebe doações em dinheiro para ajudar na compra de medicamentos, como vermífugos e vitaminas, e também de produtos de limpeza.
Ela queixou-se da situação dos animais abandonados na cidade de Vilhena. “Se todo mundo gostasse um pouco dos animais seria diferente”, lamentou.
Quem puder ajudar de alguma forma pode entrar em contato com Leonice pelo número (69) 9 8463-1777 ou (69) 9 9314-5991, ou também com a nossa reportagem pelo número (69) 9 8501-8511. Segundo Leonice, os animais estão disponíveis para adoção.
Ninhada foi deixada em frente à casa de Leonice.
Os gatos ficam soltos e livres pelo quintal.Os cachorros ficam soltos apenas algumas horas por dia.
FONTE: Vilhena Notícias