Página “Festa no IML’’ é tirada do ar após denúncia

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Há cerca de um mês, Nina Maluf, diretora funerária denunciou ao Ministério Público e à Polícia Federal, páginas do Facebook e grupos de conversas por aplicativos onde os integrantes costumavam postar fotos e mensagens que incentivavam a necrofilia, o ato de fazer sexo com um cadáver.

Entre eles, um dos que mais chamou atenção dos investigadores foi a página “Festa no IML”. Alguns membros postavam mensagens como se fossem funcionários de IML’s (Instituto Médico Legal) brasileiros ou que tivessem livre acessos a corpos do instituto. O foco dos participantes eram os corpos de jovens, entre 18 e 25 anos.

Na maioria das vezes eram publicadas fotos de mulheres sempre muito bonitas que haviam morrido e sobre a “sorte” das pessoas que estariam dentro do processo fúnebre das vítimas. Os comentários eram dos mais diversos e perversos, sempre com conotações sexuais.

Um dos casos que mais movimentaram o grupo, foi quando a modelo Caroline Bittencourt, morreu afogada em Abril do ano passado. Além das fotos da modelo ainda viva, muitos comentários como ‘’quem será o sortudo que fará o acompanhamento’’, ‘’eu queria ser o médico legista”, entre outros.

Era frequente também nas publicações os participantes dos grupos trocarem experiências sexuais que já tiveram com cadáveres, além disso, Nina ressalta que dentro de grupos fechados, esses mesmos membros troquem vídeos e fotos das vítimas. Na segunda-feira após a denúncia aparecer no programa Balanço Geral, a rede social tirou página do ar por concluir que a página “cruel” e “insensível” e violava as regras da comunidade. Apesar de desativada algumas publicações ainda estão circulando nas redes sociais. O caso segue em investigação.

O FolhaMax conversou com Nina Maluf e de maneira exclusiva ela comentou sobre o caso.

“Apesar de toda a exposição do Facebook, esses participantes não iam se expor postando fotos reais. O que eles faziam era incentivar o crime da necrofilia. Para a troca de fotos e experiências mais profundas eles utilizam grupos fechados de conversas e criam links. Neste caso existem também as encomendas de vídeos. Por exemplo, a pessoa pede um vídeo de uma criança pelada, menino ou menina, e geralmente eles trabalham com criptomoedas, por que aí eles não correm riscos de serem rastreados. A partir disso, eles fazem os vídeos e colocaram nos fóruns da deepweb. É uma verdadeira logística, muito semelhante como o que acontece com a pedofilia.”

Nina e seu marido, Dr Vinícius Cunha, médico naturopata, decidiram iniciar uma investigação depois ouvir comentários de trabalhadores de funerárias falando dos corpos das vítimas, com apelos sexuais. Segundo Cunha, um colega de trabalho chegou a ter ereção e ir ao banheiro se masturbar depois da chegada do corpo de uma jovem morta. O que mais chocou o médico nesse dia foi o fato da vítima estar com o rosto completamente desconfigurado, devido a violência que foi o acidente de trânsito que ela havia se envolvido.

Com o empenho do casal, após 4 anos, eles encontraram diversos grupos e páginas na rede social com fotos de mulheres mortas e travestis, seguidos de vários comentários onde mostrava o desejo e o interesse dos participantes.

A denunciante também comentou sobre a importância da regulamentação específica dentro do segmento.

“Eu acredito que uma regulamentação vai coibir escolas de tanatopraxia, auxiliar de necrópsia e necromaquiagem, a dissiminação desses cursos que estão atraindo pessoas desse tipo. Eles estão vendo uma oportunidade de ficar próximo daquilo que eles almejam. Então precisa sim. Eu sou professora, eu tenho escola, eu sei que isso vai levar um custo elevadíssimo pra mim, mas eu sou a favor da regulamentação e criminalização desses cursos de auxiliar de necropsia, por exemplo. Estamos falando de um curso, que eles colocam como curso livre mas você só pode exercer se você for concursado. Hoje um curso de necrópsia é na base de R$700 e R$600 reais. Nós temos que prestar atenção, na minha escola eu tomo cuidado para analisar quem eu estou formando. Para ganhar dinheiro, muitas pessoas de funerária contratam essas pessoas que se formam em qualquer escola ter acesso aos corpos e não sabe quais são as reais intenções delas ali naquele local que deveria ser exclusivamente de trabalho.”

A Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando. “Isso não é uma brincadeira. Pode ser que sejam jovens, crianças, mas pode ser uma máfia. Precisamos investigar e principalmente ter o controle dessas pessoas que trabalham com algo tão sério, uma pessoa que não está mais aqui.” Afirma Nina.

A pessoa que comete esse crime é enquadrado no Artigo 212, crime de Vilipêndio de Cadáver, com pena e detenção, de um a três anos, e multa.

FONTE: FOLHA MAX