Homem preso injustamente por morte de idosa em Novo Plano é libertado; namorado da vítima é preso

O delegado Nubio Lopes disse que o silêncio do homem no dia do crime contribuiu para a prisão dele.

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Delegado Nubio Lopes de Oliveira, que investigou o caso. – Foto. Renato Spagnol

Após passar dias atrás das grades, suspeito de ter assassinado a idosa Maria Teresa Resna, de 63 anos, no povoado de Novo Plano, no município de Chupinguaia (RO), no último dia 17 de fevereiro, Pedro Bueno Pereira, de 59 anos, conhecido como “Baco Baco”, foi solto e já retornou para casa.

Segundo a Polícia Civil, um homem de 34 anos que mantinha um relacionamento amoroso com a idosa confessou ser autor do crime e foi preso. O suspeito de iniciais T. R. N. já está atrás das grades e deve responder pelo crime de feminicídio. O que motivou o crime não ficou esclarecido.

Pedro foi preso em flagrante, após uma testemunha dizer à polícia que escutou a vítima Maria Teresa gritar o apelido de Pedro minutos antes de ser morta a pauladas. Conforme a Polícia Civil, o corpo da idosa foi encontrado do lado de fora da casa de Pedro.

Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 26 de fevereiro, o delegado Nubio Lopes de Oliveira da Polícia Civil de Vilhena, disse que “o depoimento da testemunha e todos os indícios apontavam, no dia do crime, Pedro como principal suspeito pelo assassinato”. Na noite do crime Pedro foi trazido para ser ouvido em Vilhena, onde ficou preso. Ele sempre negou ter praticado o homicídio.

Reviravolta

Um dia depois do crime a polícia descobriu que um homem com quem a vítima tinha uma relação amorosa foi visto sair correndo com chinelos em mãos de uma área próxima de onde o cadáver foi encontrado. O suspeito chegou a ser ouvido no dia do crime, mas no depoimento negou ter matado a idosa e foi liberado.

Durante a investigação, a polícia descobriu que o namorado da vítima teria sido uma das poucas pessoas da vizinhança a não ir ao local onde o corpo foi encontrado. Para o delegado Nubio Lopes esse comportamento causou estranheza, já que o homem tinha uma relação afetiva com a vítima.

Outro detalhe que chamou a atenção dos investigadores foi apontado pelo exame pericial. A lesão causada no crânio da vítima com um pedaço de madeira era supostamente desproporcional à capacidade de força física do Pedro. “O traumatismo causado no crânio da vítima foi muito grave, que foge ao ‘padrão comum’. O Pedro é uma pessoa franzina e supostamente não teria condições, até mesmo pelos problemas de saúde que têm, de dar o golpe com tamanha força”, destacou Nubio Lopes.

Diante disso, os investigadores e o delegado do caso retornaram ao distrito de Novo Plano para dar prosseguimento à apuração. “Logo quando chegamos no distrito ouvimos boatos que o verdadeiro autor do crime continuava solto e, a partir disso, começamos a reunir uma série de depoimentos”, explica o delegado Nubio.

Um dos depoimentos a ser colhido pelos investigadores era de T. R. N., namorado da vítima. O homem que havia sido ouvido e liberado no dia do crime, foi convocado para prestar novo depoimento ao delegado de Polícia Civil no destacamento de Polícia Militar do distrito. “Ele chegou uma hora e meia antes do horário combinado e isso é algo muito incomum”, frisa Nubio Lopes.

O namorado da vítima foi dispensando de prestar depoimento naquele momento e a polícia intensificou as investigações. A dispensa do depoimento foi uma estratégia da polícia que àquela altura já desconfiava do comportamento do namorado.

Durante a apuração a polícia confirmou, com base em testemunhos, que T. R. N. não morava na mesma casa que a vítima, no entanto, tinha um relacionamento amoroso com a idosa há algum tempo. O delegado destaca que essa informação não chegou ao conhecimento da polícia no dia do crime, quando Pedro foi preso como principal suspeito, apenas foi revelada quando a polícia de Vilhena retornou ao distrito para dar início às investigações.

A polícia também descobriu que T. R. N. realizava tratamento com uso de medicamentos controlados para esquizofrenia no posto de saúde do distrito, no entanto, há três meses não ia na unidade de saúde para pegar remédios.

Depois de ouvir várias testemunhas, uma delas disse que viu a vítima na companhia do namorado uma hora antes do crime. Sendo assim o delegado convocou T. R. N. para prestar novo depoimento.

“A essa altura só me restou conversar com o [namorado] da vítima. Numa conversa franca expus a ele tudo que os investigadores já sabiam, inclusive a condição dele ter necessidade de tomar remédio controlado e que ele estava há três meses afastado do tratamento, ele então confessou que matou Maria”, revelou o delegado Nubio Lopes.

A dinâmica do crime

Segundo a polícia, Maria estava a caminho da casa do Pedro quando foi perseguida e morta. Pedro confirmou à polícia que a idosa costumava ir na casa dele pedir fumo. A dinâmica criada pelos investigadores de polícia, aponta que a idosa foi golpeada pela primeira vez quando chegou perto da cerca, de arame liso, do quintal da casa do Pedro. “Depois de receber o primeiro golpe ela caiu e atravessou a cerca para dentro do quintal, depois recebeu o golpe fatal”, diz o delegado.

Sobre a vizinha que disse ter ouvido a vítima gritar o apelido do Pedro, a polícia diz que era na verdade um pedido de socorro da vítima. “A vizinha de fato ouviu a idosa gritar ‘Baco Baco’, mas era um pedido de socorro”, esclarece o delegado do caso.

“Quando a vítima se aproximou da cerca e viu que seria agredida ela gritou ‘socorro Baco Baco’, foi esse pedido de ajuda que a vizinha escutou”, diz Nubio Lopes.

Pedro, preso injustamente, se calou diante da polícia

Quando soube que o namorado da vítima havia sido preso e confessado o crime, Pedro decidiu falar. O homem, preso injustamente, revelou que estava deitado em sua cama quando escutou o pedido de socorro da vítima. Pedro disse que se levantou da cama e quando chegou na porta viu T. R. N. correndo e o corpo de Maria no chão. Ele falou que fechou a porta e ficou dentro de casa até a chegada da polícia.

O delegado Nubio Lopes disse que o silêncio de Pedro no dia do crime contribuiu para a prisão dele.

“O Pedro disse que não falou o que viu por medo. Ele alegou ter problemas renais graves e de coluna e se o namorado da vítima fosse contra ele, ele não teria como se defender. Na visão dele, Pedro, se ele contasse o que sabia seria morto”, explica Nubio Lopes.

Com a conclusão do inquérito T. R. N. 29 anos mais jovem que a vítima, foi indiciado e deve responder pelo crime de feminicídio.