Chocante: Paciente tem objeto deixado na veia após aplicação de medicação em Vilhena

Uma sucessão de erros é apontada pela paciente que procurou o Ambulatório Covid-19 para realizar um simples teste e acabou  passando por processo cirúrgico urgente em outro município.

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A mulher de 31 anos que prefere não ser identificada, procurou a redação do VILHENA NOTÍCIAS  para expor o drama que está vivendo nos últimos dias. Segundo ela, o fato aconteceu  no Ambulatório Covid-19 no último sábado (12) por volta das 18:30h.

“Eu estava com uma dor de cabeça muito forte há alguns dias e fui até o Ambulatório Covid-19 para fazer o exame e o resultado foi negativo. O médico que me atendeu, me mandou para outra sala para tomar uma medicação, e ali começou todo o meu sofrimento. Ao retirar a agulha da minha veia, a enfermeira se desesperou e começou a me pedir desculpas, dizendo que havia deixado o jelco ‘entrar’. Aí ela pressionou meu braço para o jelco não se mover, mas não adiantou”.

Confira: 

 

 

O QUE É CATETER JELCO?

O cateter intravenoso jelco é um dispositivo médico básico, usado para introdução de medicação na corrente sanguínea. É composto por uma agulha e revestimento flexível, tendo a possibilidade de, após o acesso venoso, poder retirar a agulha, ficando apenas o revestimento.

A punção venosa com jelco sobre uma agulha é popularmente conhecida por profissionais como jelco. É um material diferenciado pela forma como é construído, conta com um cateter de teflon que envolve o cateter com uma agulha inoxidável. O jelco apresenta diferentes tamanhos, cada um é indicado para uma punção venosa específica.

O jelco utilizado para administrar a medicação na paciente, era semelhante a esse da foto acima

 

DESESPERO

A mulher conta que a partir daquele momento, vários funcionários se aproximaram dela, e pela movimentação na sala, ela percebeu que havia acontecido algo sério.

“Eu fiquei apavorada porque vi o desespero de todos ali em volta e principalmente da enfermeira que aplicou a medicação em mim. Fui encaminhada para a UPA para fazer um raio x. Quando eu ainda estava na lá, um médico do Ambulatório Covid me ligou e pediu para que eu voltasse para o Ambulatório, pois precisaria ficar em observação”.

Ela ainda afirma que foi encaminhada ao Hospital Regional  para realizar exames de ultrassonografia e tomografia para tentar localizar o corpo estranho, e que ao retornar para o Ambulatório foi informada que precisaria ser transferida para Porto Velho para realizar uma cirurgia de urgência.

Mesmo com o resultado do teste de covid negativo, por orientação do médico, a mulher voltou para o Ambulatório Covid onde passou a noite em observação e ali permaneceu por quase 24 horas. Ela explicou para a equipe médica que não poderia ir para Porto Velho por causa dos filhos.

“Sou viúva, crio meus filhos sozinha, não tenho com quem deixá-los, então não poderia ir para lá e fiquei muito preocupada em fazer uma cirurgia, ficar internada e acabar contraindo o vírus da covid. Eu não estava doente, só queria fazer o teste e poder seguir minha rotina normalmente”.

Após 24 horas do ocorrido, a paciente foi transferida para o hospital Heuro de Cacoal para poder realizar a cirurgia e retirar o corpo estranho do seu organismo.

“Antes de entrar para o centro cirúrgico, fiz outra ultrassonografia para ver se conseguiam localizar o jelco. A médica chegou a me mostrar ele, dava para ver nitidamente. Ele havia se descolcado e estava abaixo do local onde houve a perfuração da agulha. Já na hora da cirurgia, que durou aproximadamente duas horas, não conseguiram localizá-lo e até agora eu não sei se estou ou não com um corpo estranho em meu organismo e quais os riscos que isso pode  trazer para a minha saúde e qualidade de vida”.

 

ALGO ESTÁ ERRADO

A mulher revela que desde que a enfermeira admitiu que havia deixado o jelco dentro de sua veia, ela percebeu o desespero dos profissionais pela movimentação de onde ela estava.

“Eu percebi que algo estava errado e fiquei com medo de morrer. Perguntei para um médico se havia essa possibilidade e ele me disse que não havia riscos. Para um casal de amigos que me acompanhou ao saber o que tinha acontecido, um médico daqui de Vilhena disse à eles que meu caso não era exceção, mas sim o terceiro caso em que o jelco apresentava problemas. Ele disse também que a culpa não foi da enfermeira, pois havia chegado um lote de jelcos com defeito e que o material era de baixa qualidade. Não sei se essa informação procede, mas se for verdade, uma atitude deveria ter sido tomada já no primeiro caso”.

A mulher também disse à reportagem que no hospital Heuro de Cacoal precisou esperar das 11h até às 20h para poder voltar para Vilhena após alta médica.

“Tudo aconteceu no sábado por volta das 18:30 e cheguei em Cacoal no domingo por volta das 18:40. Demorei 24 horas para fazer a cirurgia e nada foi encontrado. Ganhei alta na terça-feira (15) e não podia voltar para Vilhena porque eu precisava esperar uma ambulância de Vilhena ir para lá com algum paciente para que eu pudesse voltar”.

Segundo a mulher, às 20 horas da terça-feira, uma ambulância de Vilhena foi buscá-la em Cacoal.

“Eu estava muito nervosa porque queria vir para casa logo, estava preocupada com meus filhos. Me ofereceram um carro para me buscar, mas não fazia sentido eu ir de ambulância e voltar em um carro particular. Eu tinha acabado de fazer uma cirurgia, precisava voltar da mesma forma que eu fui, de ambulância e com acompanhamento. Até uma visita na minha casa para ver como meus filhos estavam foi oferecido para mim, mas depois que ganhei alta, ninguém mais se pronunciou”.

Outro fator que chama atenção em relação ao atendimento da paciente, é que alguns receituários do hospital Heuro estão com as datas totalmente desconexas:

 

“Minha preocupação é que ninguém me afirmou que o jelco não está no meu organismo e eu tenho tive febre e tonturas desde o dia do ocorrido. Também estou tomando medicação e preciso realizar outros exames, mas no momento estou sem condições financeiras. O remédio que foi receitado para mim, eu pedi para minha irmã comprar, pois ainda não recebi este mês. No dia do fato e durante minha internação, todos pareciam muito preocupados comigo, mas depois que ganhei alta, ninguém me procurou para saber se eu estava bem ou se precisava de alguma coisa. Me sinto muito mal por isso”.

Após solicitar uma cópia do seu prontuário médico no Hospital Heuro, a paciente recebeu um protocolo de retirada para 30 dias, mas admite que não tem como ir até lá buscar, já que só ela pode retirar.

A acompanhante da paciente que também estava presente na entrevista, explica que a médica que realizou a cirurgia no Hospital Heuro em Cacoal informou que é uma situação grave.

“A médica que fez a cirurgia retirou parte da veia dela onde foi injetada a medicação e disse que aquela parte da veia estava bem danificada, não sei se por causa da injeção que foi aplicada somente uma vez ou se foi por causa do jelco mesmo. Ela examinou as principais veias da paciente mas não encontrou o objeto. Agora ela não vai poder pegar peso e precisa de repouso. Quando fomos para Cacoal, uma enfermeira foi nos acompanhando na ambulância e todos estavam muito apreensivos. Agora ninguém apareceu nem para ver o que ela está precisando. Não importa de quem é a culpa, mas alguém precisa ser responsabilizado e dar um mínimo de suporte a ela”, explicou a acompanhante da paciente em tom de revolta.

Segundo a paciente, a médica que realizou sua cirurgia orientou que ele repousasse e evitasse  qualquer tipo de esforço físico pelos próximos dias.

“Estou muito chateada. Imagina, fui fazer um simples teste de covid e por um erro deles passei a noite lá e depois saí de em uma ambulância, fui transferida para outra cidade para fazer uma cirurgia de urgência, preocupada com meus filhos que ainda são crianças a só tem a mim. E do mesmo jeito que eu fui eu voltei, sem informação alguma. Sem saber se o objeto está ou não no meu corpo. O fato de não ter sido localizado, não significa que ele não possa estar aqui. Eu preciso de uma certeza, mas para isso, preciso realizar outros exames de alto custo e eu não tenho condições no momento. Não posso deixar de alimentar meus filhos para pagar um exame, infelizmente essa é a minha realidade. As pessoas que sabem da minha situação me falam de tantas coisas que podem acontecer comigo se esse objeto ainda estiver no meu organismo e eu fico cada vez mais desesperada”, desabafa a mulher.

A reportagem do VILHENA NOTÍCIAS entrou em contato com o Hospital Euro de Cacoal porém nenhuma de nossas ligações foram atendidas.

Ambulatório Covid-19 em Vilhena – Foto: Vilhena Notícias

Na manhã desta sexta-feira entramos contato também a com a responsável pelo Ambulatório Covid-19 mas ela não estava. No início da tarde, tentamos contato pelo WhatsApp, mas fomos informados que ela estava em atendimento.