VILHENA: “Venda de TCCs já virou feira livre”, alertam professores universitários

Envolvidos podem sofrer condenação na justiça.

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A compra e venda de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) parece estar ganhando terreno em Vilhena. Professores e alunos se mostram alarmados e contam detalhes sobre como funciona o mercado negro da formação acadêmica na cidade. Trabalhos que podem valer mais de R$ 4 mil e escritores profissionais de monografias que procuram alunos para vender seu “produto”: a realidade do assunto se tornou preocupante na cidade.

De acordo com a professora universitária Eline da Silva Bispo, “a venda de monografias e TCCs já virou uma feira livre”. Nesse aspecto “o TCC virou uma mercadoria e seu valor varia de acordo com a complexidade do tema e o prazo disponível”.

Alguns juristas acreditam que existam consequências penais, pois quem faz se passa por outra pessoa, ou seja, falsidade ideológica. De acordo com o coordenador do curso de direito da Faculdade AVEC em Vilhena, Hélio Daniel de Favare Baptista, as consequências são as mais variadas possíveis. “Configura crime, falsidade de documento particular visando obter vantagem, fraude, infração disciplinar podendo gerar até expulsão do aluno, por ser uma falta grave. Além disso, de forma ética e moral, uma pessoa que recorre a esse tipo de recurso para colar grau com certeza terá dificuldades para exercer sua profissão, porque é alguém que não teve formação adequada e terá que recorrer sempre a esse tipo de subterfúgio em sua vida”, analisa.

Hélio lamenta que embora a prática de comprar TCC exista, seja difícil mensurar e identificar os culpados, pois “a prova disso e a investigação é muito complicada. O máximo que conseguimos foi desconfiar de alguns elementos do texto, mas não conseguimos reunir indícios para abrir nem um processo disciplinar, na maioria dos casos”.

A jornalista formada em Vilhena, Leiliane Francisco Machado, explica que, durante seus estudos, recebeu ofertas de escritores profissionais de monografias. “Desde a época de universidade eu lembro desses relatos. Na época presenciei um caso bem peculiar de uma aluna que foi identificada na pré-banca, a defesa seria no outro dia, e uma das professoras identificou vários pontos de plágio. Depois disso, ela foi barrada, teve que fazer outro trabalho. Também recebi ofertas de vendas de TCC, mas nunca tive contato com mais detalhes, sobre preço ou coisas assim”, revela.

TRABALHO DE CONCLUSÃO PODE CUSTAR MILHARES DE REAIS

O advogado Liomar Júnior também diz ter presenciado pessoas que recorreram à prática. “Pelo que ouvi falar, na minha época de faculdade (2008 – 2012) girava em torno de R$ 250 até R$ 1000”, conta. Outros alunos afirmaram, inclusive, terem pago até R$ 4 mil por um trabalho de conclusão.

A identificação dos produtores do conteúdo fraudulento, no entanto, é complicada. O professor universitário Luciano de Sampaio, afirma que os “ghostwriters” (escritores fantasmas) podem ser identificados por seu estilo de escrita. “Identificar os ghostwriters é um dos pontos iniciais para a prevenção. Todo mundo tem certos “marcadores” de estilo quando escreve e saber que um determinado TCC não apresenta os marcadores do aluno em questão, e sim de outro, já é um bom indício.

Além disso, um acompanhamento cuidadoso na orientação também pode ajudar significativamente a diminuir a incidência desse tipo de fraude. Certas tecnologias de colaboração em tempo real para edição de documentos, por exemplo, permitem conferir a identidade de quem está do outro lado da tela, bem como outras ferramentas podem oferecer verificação de estilo ou mesmo de ocasionais plágios que o ‘ghostwriter’ possa cometer”, conta.

Eline acredita que a conscientização seja importante para a prevenção. “Pra prevenir é só pela conscientização e sensibilização. Alguns dão a desculpa de que trabalham muito e não têm tempo para fazer o trabalho e outros só decidem não se estressar mesmo. Hoje existem sites que você pode entrar em contato com o vendedor do TCC e se estipula o tema, prazo e valores. É muito fácil. Por isso, o aluno precisa ter a determinação de expor para a banca o produto de seu estudo. Infelizmente é um mercado que vem ganhando um espaço muito grande. Por parte da instituição ela fiscaliza, fala das consequências e mesmo assim o mercado vem ganhando espaço. Então, quem compra é que tem que saber que é um ato imoral”, pondera.

A sociedade também sofre com a prática. Luciano de Sampaio pontua que quem compra um TCC, ou qualquer outro trabalho acadêmico, já dá mostras de quais parâmetros éticos segue em relação à produção científica. “Pular etapas na academia ao comprar um trabalho, coloca no mercado um profissional com preparo abaixo do mínimo esperado em uma graduação, podendo, pelo lado ‘menos ruim’, acarretar problemas de empregabilidade para o indivíduo ou, pelo lado mais grave, um profissional atuante em seu mercado sem condições de fazê-lo corretamente”, completa.

Leiliane também crê na prevenção como sendo responsabilidade importante da banca que analisará o trabalho. “Seria bom que tivesse sempre nas universidades um crivo de análise mais minucioso do trabalho, que possa diminuir os riscos de uma fraude. As bancas avaliadoras poderiam ser mais criteriosas. Esse é um dos pontos que pode coibir muito. E, é claro, aumentar também a punição para quem vende e quem compra”, sugere.

VILHENA: “Venda de TCCs já virou feira livre”, alertam professores universitários

Professor Hélio: “As consequências jurídicas podem ser as mais variadas”

Professor Luciano: “Marcadores de texto podem ajudar a identificar os ‘ghostwriters’”.

 

FONTE: Vilhena Notícias