PRF monitora redes para ‘reduzir dano de imagem’ do Amazonas, diz jornal

Documento da Presidência mostra que polícia deveria agir na 'identificação de ações adversas que atentem contra os objetivos da missão'

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Enterros de Covid-19 em Manaus (AM), no cemitério Nossa Senhora Aparecida Foto: Sandro Pereira / Fotoarena/Agência O Globo

Em meio à crise que aflige Manaus em decorrência da Covid-19, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitorou redes sociais para identificar ações “adversas” relacionadas à ajuda federal ao Amazonas.

Em um documento da Presidência, obtido pelo GLOBO, que traça as ações de vários órgãos do governo na condução da crise no Amazonas, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) cita como uma das tarefas da PRF a fiscalização das redes para ” reduzir danos de imagem e antecipar ações de contrainformação”. Em nota, a Polícia Rodoviária Federal diz que sua ação faz parte de “plano de ação constante na matriz de responsabilidades relacionada ao plano de apoio ao município de Manaus”.

A instituição nega que tenha recebido determinação do ministério para adotar o procedimento. Segundo a PRF, ela mesma costuma adotar o monitoramento de rede como ação preventiva em suas operações. A PRF afirmou ainda que no caso de Manaus o monitoramento “teve por objetivo, juntamente com a ação precursora em campo, identificar a existência da  divulgação na internet de ações/eventos que buscassem inviabilizar o transporte e promover  interdições de vias.”

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A informação sobre monitoramento está em relatório finalizado na última segunda-feira para atualizar informações no âmbito da ação 756 no Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou ao governo a atualização do plano a cada 48 horas.

” Monitorar redes sociais para identificação de ações adversas que atentem contra os objetivos da missão”, diz o documento explicando a atribuição da PFR, e sinalizando o motivo: “Para reduzir danos de imagem e antecipar ações de contrainformação”.

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O MJSP sinaliza que a tarefa deveria ser cumprida “através do emprego de recursos humanos e materiais”. No “status” de realização, o trabalho consta como “realizado e em prontidão”.

A crise sanitária em Manaus tem abalado a popularidade do governo Bolsonaro e já ensejou inclusive abertura de inquérito no STF para investigação das ações do Ministério da Saúde. Desde o início de janeiro, o Amazonas tem enfrentado escassez no abastecimento de oxigênio e colapso em seu sistema de saúde. Pacientes tiveram de ser transferidos para outros estados para obter atendimento adequado.

Essa não é a primeira vez que o governo monitora as redes. No ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para apura a produção de dossiês por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com informações sobre opositores do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo aqueles que se identificavam como “antifascistas”.

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Na ocasião, o STF determinou a suspensão da produção desse tipo de conteúdo pelo ministério. O órgão enviou ao Supremo um posicionamento no qual argumentava que ” sua área de inteligência atua subordinada à mais estrita legalidade”.

Procurado, o Ministério da Justiça informou que quem se pronunciaria sobre o caso seria a PRF. Em Nota, a Polícia Rodoviária sustenta que “em decorrência da sua competência constitucional e legal, bem como da expertise e profissionalismo que caracterizam a atuação na garantia da mobilidade e da logística de transporte em todo o país, executa desde o início da pandemia uma série de ações para garantir o transporte dos insumos de saúde com agilidade e segurança, visando a atender as demandas do sistema de saúde”.

Em relação ao trecho que aponta a necessidade de reduzir “danos de imagem”, a corporação afirma que “se refere exclusivamente à imagem da instituição PRF (que seria afetada negativamente se houvesse qualquer frustração da missão).”

 

Fonte: Leandro Prazeres e Paula Ferreira/O Globo