Uma professora e um orientador escolar foram xingados e ameaçados por um pai de aluno da rede estadual em Vilhena. O caso aconteceu cerca de 15 dias atrás e gerou até boletim de ocorrência. Entre as ofensas estão frases do tipo; “servidor público nojento”, “pastora do capeta” “pode preparar o rim dela” e “se você quiser chamar uma guarnição da polícia para ficar aí, pode chamar, porque não vou alisar vocês”.
A redação do Vilhena Notícias teve acesso exclusivo aos áudios enviados pelo pai do aluno no celular institucional da escola Álvares de Azevedo e também conversou com o orientador e com a professora envolvida no caso. Nenhum dos envolvidos terá o nome publicado.
O caso
Segundo a professora, que há 21 anos é servidora estadual em Vilhena, em um dia normal de sala de aula pediu ao aluno (13 anos) para que se sentasse mais próximo à sua mesa, numa tentativa de sanar ‘conversas paralelas’ e que pudesse iniciar sua aula. “Ele disse: “Não vou mesmo”, eu refiz a solicitação e ele novamente disse que não iria. Falei: “Você não irá obedecer?”: Ele novamente afirmou que não iria fazer o que eu havia pedido.”, contou a professora, que após a negação do aluno, preencheu uma pasta e marcou a opção “Desrespeito ao docente”.
Acompanhado de outro estudante que atrapalhava a aula, a docente encaminhou a dupla para o serviço de Orientação Educacional para notificar o acontecido, entregar o encaminhamento e acrescentar que além do fato, o garoto também estava sem fazer a atividade em sala.
A professora retornou à sala de aula e continuou as atividades do dia. Somente próximo às 18h ficou sabendo dos áudios que a escola recebera. O garoto havia comunicado seu pai que foi posto para fora de sala. “Minha reação foi de choque, pois jamais havia sido tão ofendida assim em minha vida inteira. Era difícil de acreditar que aqueles áudios eram reais, tamanha a grosseria, ofensas e ameaças por um fato ocorrido dentro da sala de aula, como um procedimento normal na docência. Senti-me profundamente desrespeitada e até com medo devido às ameaças proferidas no áudio, como “Preparar o meu rim” que ele viria com tudo… Às ofensas com relação a minha fé, minha postura em sala de aula, relação que tenho muita ética e sei separar as coisas”.
O orientador, Fernando Dias de Andrade, que autorizou a divulgação de seu nome e foto, contou que a escola segue a linha de encaminhar os alunos à orientação por diversos motivos: faltas, atrasos, trabalhos que não são terminados. E segundo

ele, o aluno em questão vem tendo dificuldades com o aprendizado, mantendo uma linha de ocorrências. “Eu convoquei a mãe para que viesse até a escola e que alinhássemos as coisas. Ela veio e assinou um termo de compromisso de que o aluno iria se comportar, fazer as tarefas, mas no mesmo dia, após o recreio ele já estava novamente na orientação”, contou.
Segundo Fernando, ele encaminhou mensagem para a mãe e comunicou que uma advertência escrita seria dada ao seu filho. “Nesse meio tempo em que o aluno estava aguardando, ele mandou mensagem para o pai e disse que a professora tinha o ‘jogado para fora’ da sala de aula. Então começaram os áudios.”
Os áudios (ouça mais abaixo)
Antes de começar a enviar áudios aos docentes, o pai fez seis ligações, que não foram atendidas devido ao horário. Então, por volta das 17h ele começou a enviar áudios do tipo; “atende esse celular, seu servidor público nojento. Se você não está satisfeito com isso aí procure outra coisa para fazer”.
O tom da conversa sobe quando o homem diz que irá até a escola “conversar com o pezinho no chão, bem macio, bem de quina” com os educadores. Em dado momento ele se refere à professora, que é pastora, como “pastora do capeta, do satanás”. Por fim, o homem diz que iria até à escola e que uma guarnição da polícia poderia ser chamada por que não iria alisar para ninguém.
O caso aconteceu em uma sexta-feira, o pai foi até a escola na terça-feira seguinte. Porém, mais calmo. Segundo o orientador, ele se dirigiu até a unidade escolar por que a empresa em que ele trabalha (TRANSPORTES) consultou o CPF do motorista e havia um Boletim de Ocorrência em seu nome e teve suas cargas bloqueadas.
Tanto a professora, quanto o orientador não tiveram contato com o pai neste dia.
Fernando, o orientador que recebeu todos os áudios e conversou com pai através de mensagens, contou que não houve amparo aos dois (ele e professora) por parte da escola. “Em nenhum momento fomos procurados para saber como tudo ocorreu. Usaremos esse caso como forma pedagógica para mostrar aos docentes aquilo que nós passamos”, disse.
Em um desabafo a professora lamentou;
“O fato é lamentável e motivou muita tristeza, angústia, medo e muitos outros sentimentos aos quais tenho lidado desde o ocorrido. Entrar na escola, estacionar meu carro, ter medo de ser surpreendida por um pai no estacionamento, ser abordada nos corredores da escola, e até mesmo na sala de aula, onde muitas vezes, cheguei a trancar a porta por medo e pavor de ser surpreendida por esse pai.
Tenho tentado continuar a exercer minha função com equilíbrio emocional após esse fato, pois as situações não pararam de ocorrer, pois o dia a dia em uma escola pública não é fácil. Espero que a justiça seja feita e que possamos olhar com atenção especial ao profissional da educação e o exercício de sua função na escola pública ou privada.”
O áudio teve seu timbre alterado. Ouça: