Jovem vilhenense com HIV conta detalhes de sua rotina em entrevista

“Não sei quando contrai o vírus, pois nunca tinha feito o exame antes da data em que fui diagnosticado este ano, só o realizei porque meu parceiro fez o teste e deu positivo”, disse Jhony.

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Foto: Renato Spagnol

Nesta semana em que se comemora o “Dia Mundial de Combate à Aids”, (1° de dezembro) o site VILHENA NOTÍCIAS veiculou duas importantes notícias (Link 1Link 2) acerca do caso que acomete milhares de pessoas em todo o mundo. A coordenadora municipal de DSTs e Aids, Dr. Maria Zilda Golin, concedeu entrevista exclusiva ao site.

Segundo dados do SAE/CTA – Serviço de Assistência Especializada – Centro de Atenção e Tratamento, 618 pessoas acometidas pelo vírus do HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana, foram atendidas de 1995 a 2015. Hoje, 400 pessoas fazem tratamento continuo em Vilhena. Ainda de acordo com dados do órgão, somente em 2015, 59 pessoas foram diagnosticadas com o vírus HIV em Vilhena. Todas iniciaram tratamento junto ao SAE/CTA.

Nesta sexta-feira, 4 de dezembro, o VILHENA NOTÍCIAS traz uma entrevista exclusiva com um jovem de 18 anos, portador do vírus HIV, que trabalha na área de vendas. Por uma questão de privacidade, o site não revelará a identidade do entrevistado referindo-se a ele com o pseudônimo Jhony.

Vilhena Notícias: Como e quando você soube que tinha o vírus da AIDS?

Jhony: Não sei quando contrai o vírus, pois nunca tinha feito o exame antes da data em que fui diagnosticado este ano, só o realizei porque meu parceiro fez o teste e deu positivo. Os profissionais do SAE pediram minha presença para realizar o teste e ele me levou. Não estávamos doentes, ele apenas realizou o teste por curiosidade e eu por ser parceiro dele.

Vilhena Notícias: Atualmente você se sente tranquilo em relação ao tratamento e medicamentos oferecidos contra a AIDS, já que a doença antigamente era vista como uma sentença de morte?

Jhony: O início do tratamento foi no mesmo dia que fiz o teste e deu positivo, foi um susto, um medo, um monte de informações e você se vê com um comprimido na mão que passa a significar continuar vivo. Ele é a verdade que você tem que engolir todos os dias, uma verdade que você não quer lembrar…Foi muito difícil, mesmo tendo sido orientado sobre todas as oportunidades de sobreviver à Aids. Os primeiros dias do remédio sentimos muito sono e estávamos muito tristes, preocupados, chorávamos juntos mas ao mesmo tempo tentávamos dar forças um para o outro. Uma mistura de medo, dor, susto, tristeza, culpa, dúvidas, angústia. Não sabemos quem passou pra quem e nem temos como saber, na verdade os dois têm história de outros relacionamentos e nunca tínhamos nos preocupado em fazer o teste antes. Camisinha só era usada quando namorávamos, no início, depois largávamos pois não é e não era bom. Não parávamos para pensar em doenças, pensávamos em viver, amar, aproveitar oportunidades”.

Vilhena Notícias: Você sente preconceitos ou as pessoas que sabem da sua doença procuram te ajudar no que podem ?

Jhony: Não contamos para o mundo que temos Aids. Eu não contei e não vou contar para ninguém da minha família, pois já sofro preconceito por ser gay, e se eu contar, aí sim que eles vão me julgar ou quem sabe me abandonar de vez. Tenho medo. Meu parceiro contou para a mãe e ela nos aceita, mas sei que sofre e se preocupa com nós. Temos agora novos amigos que também tem o vírus da Aids e neles encontramos apoio e percebemos o que nos espera no futuro. Tem histórias de quase morte que escutamos, de sofrimento, de irresponsabilidade também para com o tratamento e com os outros. Depende de nós seguirmos o tratamento para sobreviver, mas temos medo, sempre estamos preocupados… Um pesadelo, um fantasma que nos acompanha. Ainda não sabemos o suficiente para encarar a vida como antes, não sei se vai ser possível, acredito que não… Dói, tento não pensar para não sofrer ainda mais. É como se tivesse apagado uma luz ou todas e estamos aprendendo a caminhar no escuro… Temos pessoas do nosso lado mas ainda estamos no escuro… Sufoca, dá medo… Fecho os olhos e tento imaginar que estou apenas de olhos fechados e que nada mudou lá fora, que eu tenho apenas que abrir os olhos quando sentir necessidade ou medo. Não sei explicar direito mas é mais ou menos assim… Não quero pensar, lembrar. Mas lembro todas as noites ao tomar o remédio…tenho que ter esperança… Preciso continuar, daí eu não fico pensando.

Vilhena Notícias: O que você acredita que precisa ser mudado nos programas de prevenção e no tratamento oferecido ao doente ? O que realmente funciona em campanha de prevenção na sua opinião?

Jhony: Antes de saber que eu tinha Aids nunca parava para escutar, ler ou saber nada disto. Depois do exame parecia que o mundo inteiro só falava nisto, jornais, TV, assuntos de rodinha, camisinhas de todos os lados.
Fiquei assustado… Como se o mundo todo soubesse de mim e estivesse lendo na minha testa e daí tudo era dito para mim por eu ter a doença. Muito louco.
Quando comentei isto no SAE que eu fui entender que sempre estavam ali as informações e os fatos, mas eu não queria saber, não aceitava o fato de eu um dia poder estar doente… Estava longe do meu mundo.
Agora que faço parte do mundo Aids eu percebo o quanto por medo fugimos da informação.
As pessoas têm que parar de pensar como eu pensava, só assim podem se proteger e entender que a Aids está aí do nosso lado e que vamos pegar por sermos ignorantes ou acreditarmos que só vai acontecer com os outros.
Eu escolhi falar com vocês para dizer Acorrrrrdddeeemmmmmm. Eu daria tudo para poder voltar no tempo e fazer tudo diferente.
Tenho medo da morte, mas tenho medo maior de ficar só… Ser rejeitado. Meu mundo continua, mas bem menor do que eu imaginava ser ou querer”.