
O uso excessivo das redes sociais tem se tornado uma preocupação crescente entre profissionais da saúde mental, especialmente diante da dificuldade que muitos usuários têm de perceber que estão ultrapassando limites. Entre os sinais mais comuns estão deixar de realizar atividades sociais, estudar menos, perder o interesse em esportes, evitar interações presenciais e passar longos períodos online sem conseguir lembrar do que consumiram. A sensação de “tempo perdido” e a dificuldade de desconexão também têm sido cada vez mais frequentes entre pessoas de todas as idades.
De acordo com o psicólogo e coordenador do curso de Psicologia da UNINASSAU Vilhena, Pedro Papini, os impactos aparecem de formas distintas ao longo da vida. “No caso dos adolescentes, que estão em pleno desenvolvimento da identidade, as redes ampliam vulnerabilidades como comparação, necessidade de validação e inseguranças corporais. Já os adultos, pressionados por expectativas de carreira e sucesso, sofrem com a obrigação de manter uma imagem de vida ‘perfeitamente resolvida’. Entre os idosos, a solidão culturalmente construída aumenta a busca por afeto e conexão online, o que pode torná-los mais suscetíveis a golpes”, explica.
A influência emocional das redes está ligada também à transformação da vida em “performance”. A construção de uma identidade moldada para aprovação virtual costuma gerar ansiedade, comparação e a sensação de inadequação, já que a maior parte dos conteúdos exibe recortes artificiais de sucesso, produtividade e felicidade. Essa busca constante por validação pode interferir no humor, no sono e nas relações interpessoais, especialmente quando o usuário sente que não atende aos padrões apresentados.
Papini reforça que esse movimento é um dos principais gatilhos de sofrimento. “As redes vendem um ideal de felicidade baseado em juventude, velocidade e conquistas infinitas. Quando alguém não corresponde a isso, surge a sensação de que está errado. Mas ninguém é inadequado, somos seres complexos, cheios de contradições e singularidades. O problema é que as plataformas uniformizam experiências e criam expectativas inalcançáveis”, afirma.
Apesar dos riscos, é possível construir uma relação mais equilibrada com o digital. Diversificar atividades é uma das principais estratégias para reduzir a dependência emocional do celular: praticar esportes, ler, cozinhar, estudar ou participar de atividades coletivas ajudam a diluir a centralidade do dispositivo na rotina. Para crianças e adolescentes, estabelecer horários limitados de uso e planejar momentos específicos para estar no celular ajuda na construção de disciplina e autonomia.
Segundo o psicólogo, o ideal não é medir tempo de tela, mas observar o que a pessoa está deixando de viver para ficar online. “A questão não é apenas quantas horas se passa no celular, mas como isso interfere nas experiências. Trabalhamos, estudamos, namoramos e até criamos vínculos pelas telas. A pergunta é: o que estou abrindo mão para continuar conectado?”, destaca.
“Quando alguém da família demonstra irritação ou ansiedade ao ficar sem o celular, o especialista orienta que os responsáveis mantenham a calma e estabeleçam limites claros. No caso de crianças, a frustração é natural e o papel do adulto é acolher e ensinar que há tempo para tudo, inclusive para desconectar”, finaliza o coordenador do curso de Psicologia da UNINASSAU Vilhena, Pedro Papini.











