A bordo de bicicletas, as venezuelanas Carla, Alejandra e Paola vivem uma aventura pela América do Sul

Pé na estrada é o lema das aventurosas venezuelanas

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Foto: Renato Spagnol

Carla Serquera (24), terapeuta ocupacional, Alejandra Rojas (25), formada em gestão ambiental, e Paola Rojas (23), artista de rua, são três jovens sonhadoras que decidiram sair pelo mundo em busca de conhecer novas culturas. De nacionalidade venezuelana, as ‘três mosqueteiras’ como bem poderiam ser definidas, pela bravura e coragem com que enfrentam as dificuldades de suas viagens, saíram há cerca de três meses da cidade de Los Teques, situada a cerca de 40 minutos da capital Caracas, com destino a um mundo ainda desconhecido por elas. Levando na bagagem comida e pouco dinheiro, as aventureiras deram o pontapé inicial à viagem.

As três jovens contaram em entrevista concedida no dia 2 de junho, ao VILHENA NOTÍCIAS, que já realizaram juntas viagens pelo interior da Venezuela, mas que essa é a primeira vez que decidiram ultrapassar as fronteiras da terra natal. Inicialmente, Carla, e as primas Alejandra e Paola, haviam se programado para conhecer as terras colombianas, mas o fechamento da fronteira entre Venezuela e Colômbia, ocorrido pouco antes da partida, fez com que elas mudassem os planos. “A nosso destino inicial era a Colômbia, mas o fechamento da fronteira fez com que mudássemos os planos”, comentou Carla.

Carla conta que tudo estava organizado, mas quando se viram impossibilitadas de seguirem viagem rumo à Colômbia, decidiram continuar a aventura, mas dessa vez em direção ao Brasil. De malas prontas, as jovens pegaram carona para chegar até a cidade de Pacaraima no Estado de Roraima. A chegada em terras brasileiras foi tranquila, mas as jovens encontraram a primeira barreira a ser superada, a dificuldade em comunicar-se, pois nenhuma tinha domínio do idioma português. “A nossa primeira dificuldade foi com a língua que não entendíamos bem”, disse Alejandra.

De Pacaraima as jovens fretaram um táxi para chegar até a capital Boa Vista, onde permaneceram por duas semanas trabalhando em semáforos com malabarismo. Ainda um pouco assustadas, elas conseguiram arrecadar um pouco de dinheiro, que lhes permitiu seguir viagem para o próximo destino, a cidade de Manaus. “Lá em Boa Vista, nós trabalhamos e conseguimos arrecadar um pouco de dinheiro para continuar nossa viagem”, falou Paola.

A inexperiência em viagens acabou gerando dissabores às jovens. Elas contam que ao saírem da Venezuela, trouxeram muitas bagagens, que logo foram ficando pelo caminho. “Cada uma tinha uma enorme mala, e isso dificultava a gente de pegar carona e até mesmo caminhar pelas ruas em busca de um lugar para dormir”, comentou sorridente, Carla.

Na boleia de caminhões, as três mosqueteiras seguiram com destino à capital do Amazonas, mas o trajeto rendeu algumas preocupações às jovens. “De Boa Vista Para Manaus nós conseguimos carona, mas não tinha como as três irem juntas. A Paola foi sozinha para Manaus e eu [Carla] e a Alejandra iríamos no dia seguinte em outro caminhão”, conta Carla.

Paola disse que a viagem a bordo do caminhão foi tranquila e em Manaus, ela ficou hospedada em uma pensão. Ela disse que aguardou pelas companheiras de viagem que deveriam chegar no dia seguinte, mas isso não ocorreu. “Fiquei muito assustada. Elas deveriam ter chegado no dia seguinte, mas só foram chegar dois dias depois. Eu fiquei desesperada sem saber o que havia acontecido e não tinha um telefone de contato, nada, nada”, disse Paola.

Após o susto, as amigas se reencontraram na pousada. Carla disse que os caminhoneiros as trataram como filhas e as ajudaram oferecendo carona, alimentação e hospedagem nos primeiros dias em Manaus.

A capital amazonense não agradou tanto as jovens, que permaneceram apenas por duas semanas e decidiram seguir viagem de barco para Porto Velho. A primeira impressão da capital de Rondônia não foi das melhores, mas com o passar dos dias se sentiram em casa, e somente na capital permaneceram por dois meses. “Logo quando chegamos, conhecemos um rapaz. Após conversamos, ele ofereceu hospedagem no sítio da família, a cerca de 40 km da cidade. Nós aceitamos e ali ficamos por alguns dias, mas depois retornamos a Porto Velho para trabalhar e arrecadar dinheiro para seguir viagem”.

Sobre duas rodas

Em Porto Velho, as jovens optaram por comprar bicicletas. A ideia, segundo elas, surgiu ao longo dos dias na capital e com cerca de 700,00 reais, Carla, Alejandra e Paola agora possuíam um veículo próprio para se locomoverem.

De semáforo em semáforo, elas percorreram a cidade trabalhando, mas o gasto na compra das bicicletas acabou deixando as aventureiras com apenas 70,00 reais no bolso. Mesmo assim, o desejo de se aventurar e conhecer novos lugares e pessoas as levou a pegarem a estrada de novo. A primeira etapa a bordo das magrelas foi um balneário em Candeias do Jamari. Ali, elas foram obrigadas a permanecerem por duas semanas, em decorrência de um pequeno acidente ciclístico com Paola que resultou em cinco pontos na boca.

“O dono do balneário nos deixou ficar sem pagar nada e nós podíamos até usar a cozinha. As cozinheiras sempre nos davam comidas. Nós não iríamos ficar muito tempo, mas a Paola acabou caindo da rede e precisou ser levado ao posto de saúde para dar pontos no ferimento”, conta Carla.

Caminho para Vilhena

Deixando para trás o lugar mágico, como Carla definiu o balneário, elas seguiram para a cidade de Ariquemes, onde pegaram carona em um caminhão e seguiram diretamente para a cidade Portal da Amazônia.

A chegada em Vilhena, ocorrida há duas semanas, foi tranquila e logo no primeiro dia as aventurosas venezuelanas encontram por coincidência em um semáforo a peruana Soledad, que reside em Vilhena. Após uma breve conversa, as viajantes seguiram em busca de um lugar para dormir. O local escolhido foi o Hotel Luz Brasil, nas proximidades do Terminal Rodoviário.

“O dono do hotel nos fez um preço muito bom e era muito gentil. Até as nossas roupas as funcionárias do hotel lavavam. Foram maravilhosos com a gente”, falou Alejandra.

O reencontro com Soledad ocorreu dias depois, quando surgiu inclusive o convite para que as jovens fossem ficar por alguns dias na residência da peruana.

O futuro

Sem data para retornar à Venezuela, as jovens contam que na próxima semana deverão deixar a cidade de Vilhena com destino à Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.

Depois, deverão seguir viagem por outros estados brasileiros e países como Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru e enfim, o retorno à pátria Venezuela.

Alejandra (esquerda), Paolo (centro) e Carla (direita).