“Kit Covid” leva pacientes a filas de transplante de fígado

Dois pacientes morreram antes do transplante

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Foto: Yuri Cortez / AFP

Em São Paulo, cinco pacientes que entraram na fila de transplante de fígado tiveram, nas semanas anteriores, diagnóstico de Covid-19 e receberam a prescrição do chamado “tratamento precoce”. Quatro foram atendidos no Hospital das Clínicas da USP e o outro no HC da Unicamp. Segundo os médicos, os pacientes chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos.

“Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, diz Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da universidade. Com a destruição dos dutos, as substâncias tóxicas então ficam livres para circular pelo corpo e provoca infecções.

No HC da USP, dois pacientes tiveram doença aguda e morreram antes do transplante do órgão. Além deles, um óbito por doença hepática aguda foi registrado em uma unidade particular de Porto Alegre. O paciente foi levado para a emergência, onde começou a convulsionar. Exames revelaram que ele desenvolveu encefalopatia hepática, condição em que o cérebro é deteriorado por toxinas que o fígado não conseguiu filtrar.

“É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares”, diz Ilka Boin, professora da Unidade de Transplantes Hepáticos do Hospital das Clínicas da Unicamp, onde um paciente aguarda transplante. A médica ressalta que as lesões não são compatíveis com as causadas pelo coronavírus.

“Não imaginavam que isso ia acontecer”. Um homem de 57 anos, que não quis ser identificado e que aguarda na fila de transplantes, conta ter  feito acompanhamento médico quando foi diagnosticado com Covid-19. “Acho que não imaginavam que isso poderia ocorrer comigo, alguém que não tinha nenhuma doença crônica”, relata, destacando que viu estudos preliminares que mostravam benefícios da droga.

FONTE: O POVO ONLINE