
Em meio à crise que aflige Manaus em decorrência da Covid-19, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitorou redes sociais para identificar ações “adversas” relacionadas à ajuda federal ao Amazonas.
Em um documento da Presidência, obtido pelo GLOBO, que traça as ações de vários órgãos do governo na condução da crise no Amazonas, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) cita como uma das tarefas da PRF a fiscalização das redes para ” reduzir danos de imagem e antecipar ações de contrainformação”. Em nota, a Polícia Rodoviária Federal diz que sua ação faz parte de “plano de ação constante na matriz de responsabilidades relacionada ao plano de apoio ao município de Manaus”.
A instituição nega que tenha recebido determinação do ministério para adotar o procedimento. Segundo a PRF, ela mesma costuma adotar o monitoramento de rede como ação preventiva em suas operações. A PRF afirmou ainda que no caso de Manaus o monitoramento “teve por objetivo, juntamente com a ação precursora em campo, identificar a existência da divulgação na internet de ações/eventos que buscassem inviabilizar o transporte e promover interdições de vias.”
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A informação sobre monitoramento está em relatório finalizado na última segunda-feira para atualizar informações no âmbito da ação 756 no Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou ao governo a atualização do plano a cada 48 horas.
” Monitorar redes sociais para identificação de ações adversas que atentem contra os objetivos da missão”, diz o documento explicando a atribuição da PFR, e sinalizando o motivo: “Para reduzir danos de imagem e antecipar ações de contrainformação”.
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O MJSP sinaliza que a tarefa deveria ser cumprida “através do emprego de recursos humanos e materiais”. No “status” de realização, o trabalho consta como “realizado e em prontidão”.
A crise sanitária em Manaus tem abalado a popularidade do governo Bolsonaro e já ensejou inclusive abertura de inquérito no STF para investigação das ações do Ministério da Saúde. Desde o início de janeiro, o Amazonas tem enfrentado escassez no abastecimento de oxigênio e colapso em seu sistema de saúde. Pacientes tiveram de ser transferidos para outros estados para obter atendimento adequado.
Essa não é a primeira vez que o governo monitora as redes. No ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para apura a produção de dossiês por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com informações sobre opositores do presidente Jair Bolsonaro, sobretudo aqueles que se identificavam como “antifascistas”.
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Na ocasião, o STF determinou a suspensão da produção desse tipo de conteúdo pelo ministério. O órgão enviou ao Supremo um posicionamento no qual argumentava que ” sua área de inteligência atua subordinada à mais estrita legalidade”.
Procurado, o Ministério da Justiça informou que quem se pronunciaria sobre o caso seria a PRF. Em Nota, a Polícia Rodoviária sustenta que “em decorrência da sua competência constitucional e legal, bem como da expertise e profissionalismo que caracterizam a atuação na garantia da mobilidade e da logística de transporte em todo o país, executa desde o início da pandemia uma série de ações para garantir o transporte dos insumos de saúde com agilidade e segurança, visando a atender as demandas do sistema de saúde”.
Em relação ao trecho que aponta a necessidade de reduzir “danos de imagem”, a corporação afirma que “se refere exclusivamente à imagem da instituição PRF (que seria afetada negativamente se houvesse qualquer frustração da missão).”
Fonte: Leandro Prazeres e Paula Ferreira/O Globo